Quarta Parte

Paixão e Amor

 

O Aprendizado

 

        "Quando eu e meu marido voltamos, quando refizemos nosso casamento, era como se houvéssemos iniciado uma vida nova. A vontade de começar de novo, de tentar não errar, de começar do "zero" era muito grande. Tudo estava aparentemente bem, mas só aparentemente. Eu sentia necessidade de me compreender, de descobrir o que há por trás dessas "coincidências" da vida. Sentia falta de um sentido para minha vida, pois estava meio vazia. Não era justo eu ficar de braços cruzados, simplesmente estávamos bem, entre marido e mulher mas e eu? Eu como uma pessoa, como um ser humano, não estava me sentindo completa. Havia alguma coisa faltando, um pedaço que não encaixava e sentia que minha busca não havia terminado. Quando me separei, tive a liberdade que eu tanto queria, pude viver sozinha, mas fazendo uma auto-análise, não era ainda o que eu queria, então refiz meu casamento, e agora? O que fazer?

       Continuava com o tratamento médico para depressão e para a ansiedade. Quando me separei pensei que não iria mais precisar de nenhum tipo de medicamento, pois agora seria vida nova. Infelizmente, não foi o que aconteceu, a médica não aceitou a minha idéia de suspender o remédio e pediu que esperasse mais um pouco. No fundo, ela sabia, tanto quanto eu, que somente esse passo não era o suficiente para uma mudança tão drástica dentro de mim mesma, as coisas não se processam desta forma. Mesmo depois que eu e meu marido voltamos a morar juntos, ainda não era a hora certa de parar com os medicamentos, pois como são controlados e causam dependência, deve haver um certo preparo antes que isto aconteça, para que não prejudique o organismo já tão acostumado com as drogas. E eu não me sentia uma pessoa normal tendo que tomar remédios, sabia que se não tomasse não conseguiria dormir e no outro dia não estaria em condições de trabalhar. Como me curar dessa depressão? Como me livrar dessa ansiedade?

          Eram dois aspectos na minha vida muito importantes. De um lado eu querendo me conhecer melhor, me descobrir, saber o porquê do acontecimento de certas coisas. De outro lado, a necessidade de me sentir curada, de não depender mais de medicamentos.

         Estava nesse impasse, com esses pensamentos de busca, de querer saber algo, querer fazer algo e não sabia o que, querer me entender mas não sabendo por onde começar, quando alguém me falou sobre mapa astral. Algo em mim se acendeu. Era isso! Eu precisava receber meu mapa astral, de repente, ali, eu encontraria o sentido para minha vida, entenderia o porquê das coisas que haviam acontecido e como haviam acontecido.

        Fiz o pedido do mapa astral. Tão logo o recebi, não só li, mas bebi aquelas palavras. Algumas entendi, outras não. Resolvi perguntar o que não havia entendido, nessas perguntas e respostas, nessas trocas de mensagens, comecei a me auto-avaliar, a me auto-analisar e foram surgindo cada vez mais dúvidas, a ponto de eu querer saber cada vez mais. Surgiam várias perguntas: existe destino? Existe um caminho para seguirmos? Porque às vezes eu não entendia meu marido e era como se ele fosse um estranho para mim? Como conviver com o vício dele de beber? Como instruir e educar meus filhos num bom caminho? Qual o melhor exemplo a ser dado a um filho?

         Então, diante de todas essas dúvidas, foi-me sugerido que eu acessasse o site da Fraternidade Rosacruz e me inscrevesse no curso Preliminar de Filosofia Rosacruz. A primeira reação que tive foi de não fazer nada disso, pois apesar de eu sentir necessidade do estudo, pensei que era um tanto estranho participar dos atos domésticos que eram realizados em determinados dias e onde havia todo um ritual com cantos e leitura de textos. Mas, por outro lado, gostei muito das informações, eram diferentes de tudo o que eu conhecia, apesar de ter lido vários livros espíritas, o que ali era ensinado era muito mais profundo e amplo, como não era uma pessoa completamente espiritualizada, estava ainda muito arraigada na condição materialista em que me encontrava, mostrei uma certa resistência. Mesmo assim, me inscrevi no curso e fiquei esperando a primeira lição. Nesse espaço de tempo, baixei o Conceito Rosacruz do Cosmos pela internet e fui lendo alguns capítulos.

         Logo no início das leituras, quando da explicação dos Mundos existentes, eu comecei a sonhar com isto, às vezes eram sonhos confusos, outras vezes eram nítidos e claros como se nem fossem sonhos, e fui lendo cada vez mais, algo dentro de mim me dizia que eu estava no caminho certo. Fui recebendo as lições, lendo e respondendo. Muitas vezes surgiam dúvidas, pois era tudo novo para mim, e lia novamente até entender. Recebia as respostas que são enviadas juntamente com a nova lição e confrontava com as minhas respostas. Comecei a fazer os rituais do Serviço de Cura e Devocionais em minha casa, sozinha, na sala. As crianças me olhavam, surpresas, não sabiam se vinham ficar comigo ou não, apesar de sempre as convidar. Às vezes, vinham cantar, outras vezes, me olhavam desconfiadas. Meu marido também estranhou, não participava, procurava nem ficar por perto, mas respeitava. Escrevi para o Serviço de Auxílio e Cura da Fraternidade, relatei meus problemas de depressão e ansiedade e enviei minha assinatura à tinta, conforme é solicitado. Logo depois recebi a resposta e me senti protegida, amparada, algo que nunca havia sentido antes. Me sentia bem na minha casa, junto da minha família. Fui notando diferença no meu sono, que passou a ser mais tranquilo, amanhecia me sentindo mais disposta e descansada. Ia lendo cada vez mais, e fui aprendendo, descobrindo, como uma criança quando está na sala de aula e tem matéria nova, minha sede de aprender foi aumentando e fui me modificando. Escrevi novamente para a Fraternidade e desta vez pedi serviço voluntário, como tenho micro em casa, poderia digitar folhetos e livretos para colocar no site. Quando recebi o primeiro folheto, mal cabia em mim de alegria. Depois de um tempo, vi publicado o trabalho que eu havia digitado e me senti imensamente satisfeita comigo mesma. Mas ainda não era o bastante, queria aprender mais e queria contar aos outros o que sabia. Sentia a necessidade de ajudar as pessoas, de transmitir o que eu estava aprendendo, de mostrar que existe uma saída apesar do caos que estamos vivendo atualmente.

           Minha consciência foi clareando cada dia mais, me sentindo cada vez melhor, dormindo melhor, fui ficando mais tranquila. Durante esse tempo de estudo, reduzi os medicamentos duas vezes, com a autorização da médica que percebeu a minha melhora, a ansiedade estava controlada, a depressão havia sumido, comecei a ver as pessoas que estão em volta de mim de maneira diferente. Meu marido e meus filhos são espíritos, assim como eu e cada um tem um ritmo próprio de caminhar, de evoluir, fui diminuindo as cobranças em torno deles e procurava mostrar em casa tudo o que eu aprendia. Às vezes eles me olhavam como se eu fosse uma estranha, pois falava de coisas que eles nunca tinham ouvido falar. Outras vezes diziam que eu só falava nisso. Chegavam a dizer que depois que eu comecei o estudo da Fraternidade, só pensava e falava em estudo, em mundos, em serviço de auxílio aos que estão próximos a nós, em compreender aos outros, em só fazer aos outros o que gostaríamos que fizessem a nós mesmos. Eu sabia que eles precisavam de tempo para conseguir me entender, pois o processo estava rápido demais dentro de mim, mas eles não estava conseguindo assimilar na mesma velocidade que eu, pois eu estudava e lia cada vez mais.

            Foi um longo caminho. Não tão longo em tempo, pois ainda é muito recente, mas olhando para trás, vejo o quanto eu me modifiquei, vejo o quanto eu fui melhorando meus atos, meus pensamentos. Em um final de semana, meu marido falou algo muito importante para mim, e cabe mencionar neste espaço. Me disse que se não fosse o estudo que eu estou fazendo, que se não fosse a minha mudança, nós não estaríamos mais juntos, pois ele não se modificou em nada com a nossa separação. Disse que me admira por isso, que admira minha força de vontade, que também queria ser assim, mas não consegue. Eu sei que no começo, logo que voltamos, ele se esforçou, tentou se modificar, mas não conseguiu, voltou à "estaca zero". Sei que ele sente remorsos por isso, sei que ele tenta mudar, mas infelizmente, não permanece, cai novamente na bebida e não se sente forte o suficiente para também adquirir conhecimentos. É uma pena, pois ele tem um potencial muito grande e poderia aproveitar para ajudar muitas pessoas.

          Esta é a minha história de vida nesta existência, ainda não é o fim, tenho ainda muito o que fazer, muito ainda a me modificar, mas deixo aqui registrado todo o trajeto que fiz para chegar onde estou atualmente.

Estou consciente dos meu erros, mas até mesmo eles foram importantes, pois tirei uma lição em cada um deles, escolhi um caminho para seguir e não pretendo me desviar dele.

          Hoje já estou prestando um serviço de auxílio e de ajuda aos que necessitam e solicitam. Continuo estudando e tão logo atinja o nível necessário, iremos formar um grupo formal de estudo, pois mesmo sem o registro, o grupo já existe. Estou servindo ativamente e é somente pelo serviço que podemos atingir um conhecimento de nós mesmos e nos colocamos à disposição para ouvir um desabafo e tentar encontrar uma palavra de auxílio.

 

 

Esta é uma experiência de vida real,

que sendo real não pode receber a palavra FIM.