Primeira Parte

 

Paixão e Amor

 

Uma Experiência Real de Vida

 

Simplesmente queria arranjar um namorado, tinha 17 anos, já estava cursando o 2º grau e ainda não tinha tido um, apenas o que se chamava na época de "paquerinhas".

Morava em uma pequena cidade do interior de São Paulo, não trabalhava e como diversão freqüentava alguns bailes com minha família, também ia à Igreja, participava do Grupo de Jovens Católicos, e não tinha o que fazer nos domingos à tarde.

Meus pais sempre voltados para si mesmos e seus problemas, ou de conversa com os vizinhos, meus irmãos, tinham a vida deles, e eu, sentia-me sozinha e perdida, sem ter o que fazer. Por nunca ter namorado de verdade, já estava me achando um tanto estranha. Então resolvi sair mais e dispus-me a conseguir um namorado, alguém que pudesse me levar para sair, para conversar, para, enfim, me divertir e me tirar daquela rotina entediante.  

Eu sonhava com alguém que pudesse estar sempre ao meu lado, iria encontrar alguém que me compreendesse, alguém que me ouvisse pois na minha família não existia muito diálogo e eu queria alguém para contar meus problemas, meus sonhos, falar do que pensava para o futuro, que queria casar, ter muitos filhos, ser mãe e esposa.

Por convite de algumas colegas, fomos a uma danceteria, um ambiente horrível, sufocante, música ensurdecedora, penumbra e calor sufocante mas todo mundo gostava. Porque eu tinha que ser diferente? Disse pra mim mesma que aquele ambiente era normal e que era até gostoso. Saia de lá, suada, cansada, cheirando à cigarro e considerava tudo normal.

Meus pais não gostaram muito quando souberam o ambiente que eu estava freqüentando, mas comigo mesma pensava - Quem são eles para escolher o lugar que devo ir? Já tenho 17 anos, posso muito bem escolher o que é melhor para mim. E não dei ouvidos à eles! Eu fazia o que queria e pronto, só eu sabia o que era melhor para mim, eu pensava.

Pois foi nesse local que encontrei um certo rapaz, bonito, alto, magro, cabelos cacheados. Pronto! O tipo perfeito! Era este! O jeito dele chamava a atenção, rodeado de amigos e amigas, dançava como ninguém, bebia, fumava, um certo ar de independência. Adorei aquele jeito de homem, pois achava que beber e fumar era coisa de homem! Eu, ao contrário, era toda "certinha", pois estudava, freqüentava a Igreja, não saia à noite, tímida e reservada na maneira de me expressar, enfim uma "moça de família".

Os opostos se atraem? Pode ser que em física isto se explique assim, mas nós tínhamos algo que nos completou, um objetivo: encontrar alguém perfeito. É claro que só fomos saber disso depois de alguns encontros, porque naquele ambiente ensurdecedor, para trocar algumas poucas palavras como nomes ou a idade, era gritando. Foi uma atração à primeira vista e daí para a paixão foi um pulo. Mas não nos conhecíamos interiormente, não havia esta preocupação, então fui ficando sabendo que ele não estava estudando, mas tudo bem. Brigava muito com os pais, aliás, dizia que odiava eles. Não queria nem ouvir falar em Deus. Mas eu imaginava que ele tinha suas razões pra ser assim, e se ele falava assim dos pais, era porque deviam ser mesmo muito maus.

Era irônico, ciumento, possessivo, mentiroso, mas era bonito, era carinhoso, vivia cercado de amigos e garotas que brigavam por ele. Eu me sentia a felizarda. A única que tinha conseguido ficar com ele mais do que alguns meses. Ele era muito sensual e "rapidinho", acostumado a sair com muitas garotas, quando me beijava, minha cabeça girava, e a ânsia por descobrir aqueles prazeres "escondidos" foi tomando conta de mim. A cada encontro, depois da saída das minhas aulas, íamos mais longe. Quando percebia certa resistência da minha parte, tentava me acalmar dizendo que era normal para quem estava namorando fazer isto, que todas as garotas que namorou faziam, que eu era a única que era anormal, tão resistente, muito infantil para minha idade, e às vezes chegava a discutir comigo quando não aceitava suas carícias mais íntimas. E eu não queria ser a criançola, a diferente ou até mesmo a estranha, queria ser igual às outras, queria fazer parte do mundo, ser adulta e dona da minha vida.

Eu vivia uma vida dupla, com ele me soltava, ia cada vez mais longe nos carinhos, chegava em casa, me sentia culpada, pois imaginava que estava deixando de ser uma "moça direita". Depois de alguns meses, me entreguei de corpo todo àquela paixão, é claro que nem pensava em prevenção, pois eu estava apaixonada, eu era dele e ele era meu. Passado algum tempo, um susto: a menstruação atrasou. Será que estava grávida? O que fazer da minha vida e como enfrentar meus pais?

Contei a ele, e ele disse que estava tudo bem, daríamos um jeito, iríamos morar na casa dos pais dele até termos o nosso canto.

Nesta época já havia conhecido os pais dele e descoberto que não era tão maus, tinham seus problemas, o pai dele gostava de um vinho, às vezes excessivamente, mas era inofensivo, até divertido.

Com o passar do tempo, percebi que ele estava triste, perdido nos seus pensamentos e eu me sentia culpada. 

Um dia, depois de uma discussão, pois ele era extremamente nervoso e qualquer coisa o tirava do sério, acabamos brigando. Era um domingo à tarde, estávamos na casa dele e fui pra minha casa chorando, na segunda-feira fiz o teste de gravidez, na terça-feira fui buscar o resultado. Negativo! Que alívio!

Somente na quarta-feira ele apareceu para me buscar no colégio, dizendo que só havia vindo porque a mãe dele insistiu, por ele estava tudo acabado, pois, segundo ele, eu fui muito grosseira naquele domingo. Mas acabou vindo por causa do "nosso" filho. Aí foi minha vez de esclarecer alguns pontos, já que não havia "filho" ainda, ele podia ir embora, se era por isso que ele estava ali, poderia dar meia volta e ir pra casa que os dias mais difíceis eu havia passado sozinha.

Mas, no fundo, eu sentia que seria assim por muito tempo. A cada dificuldade, eu ficava sozinha e tinha que sair dela. Ele fugia dos problemas, não conseguia resolver. Por trás daquele jeito de homem independente, dono de si, existia um menino imaturo, despreparado e frustrado, mas eu gostava e me achava muito forte por nós dois, e até que assim era melhor, pois ele era mais meu.

A briga passou, meus pais nem ficaram sabendo e tudo ficou bem.

Mas as brigas e discussões continuaram, ele era extremamente possessivo e ciumento e foi fazendo tamanha pressão psicológica que fui acreditando nele, pois, segundo ele, a culpa sempre era minha das discussões, tudo acontecia por minha culpa, eu era a culpada de tudo de ruim que acontecia entre nós dois, eu não sabia me vestir, eu não gostava de beber, eu não jogava baralho, eu não gostava dos amigos dele, não me sentia bem na casa dele e nem com os irmãos dele. Segundo ele, eu era extremamente chata e muitas vezes me dizia que queria ir embora, tentar a vida em outra cidade, eu ficava apavorada, não imaginava minha vida sem ele, eu vivia tão somente para ele, fazia tudo o que ele queria, me transformei na pessoa que ele queria e idealizava, fui perdendo minha identidade, não sabia mais do que gostava e o que queria para mim.

Neste meio tempo, comecei a tomar anticoncepcional e continuamos o namoro. Ficamos noivos, agora estávamos de aliança no dedo. Até um certo dia em que minha mãe encontrou a cartela de anticoncepcional na minha bolsa, disse que foi procurar algo. Eu fiquei com muita raiva dela, mas era minha mãe, não podia ter raiva dela, e tive que escutar o seu sermão. Menti a ela que fazia poucos dias que estava tomando e que estávamos prestes a casar.

Depois desse dia, qualquer discussão nossa, ela dizia que ele me deixaria, que já tinha me usado mesmo, que não iria casar comigo, que eu iria ficar solteira pro resto da vida e que ninguém iria me querer. Como ela era cruel! Como eu me sentia sozinha, abandonada. Só ele me dava carinho, só ele me entendia. Daquele dia em diante, eu não via a hora de me casar, iria provar a ela que as coisas não eram como dizia. Eu iria me casar e seria muito feliz, ao contrário dela, que era amarga e frustrada. Então, completados três anos de namoro, enfim casamos!

 

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